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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Aconteceu comigo - Parte 2



O último vôo do Samurai
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Data do acidente: 12/04/1972
Aeronave: NAMC YS-11
Proprietário: VASP
Prefixo: PP-SML
Ocupantes: 25
Fatalidades: 25
Local do Acidente: Serra Maria Comprida, Petrópolis - RJ
Histórico:
O Samurai da Vasp realizava mais um vôo de rotina da Ponte Aérea Rio-São Paulo. Era noite e tudo parecia normal. Não se sabe porque uma tripulação tão experiente como aquela (Cmte. Instrutor: Zenóbio Torres e Cmte. em Instrução: Carlos Roberto de Abreu Valença) iniciou o procedimento de descida muito antes do previsto. Como resultado da falha de navegação, o Samurai entrou voando no costado da serra, a 50Km do Rio de Janeiro, explodindo instantaneamente e matando todos os seus ocupantes.
Relato de Ângelo Teixeira de Branco - passageiro que não pôde embarcar no vôo que se acidentou.
Estava de mudança do Rio e, no dia 12/04/1972, estava em São Paulo providenciando a compra de um imóvel.
Porém, faltava um documento para conseguir o financiamento na CEF - Caixa Econômica Federal. Teria que ir com urgência ao Rio para buscá-lo. Precisava chegar ao Rio, ir até a Tijuca, pegar a chave do apto da Muda, pegar o documento na Muda, voltar a Tijuca para deixar a chave do apartamento da Muda, dar um beijo na esposa e filho, ir até a rodoviária pegar ônibus para São Paulo e... chegar na CEF às 10 horas da manhã seguinte.
Nesse dia 12 cheguei em Congonhas por volta das 19:30h. Fui ao guichê comprar passagem e havia uma pessoa na minha frente comprando a sua. Tocou o telefone, a moça do caixa conversou com alguém, desligou e acabou de atender o comprador.
Chegou a minha vez. Iria pegar o vôo da ponte aérea, o próximo vôo com destino ao Rio de Janeiro.
- Uma passagem para o próximo vôo.
- Próximo vôo apenas às 20:30h. – disse a moça.
- Mas você acabou de vender uma passagem para as 20 hs! Os passageiros estão ali esperando para embarcar – disse eu apontando para a área de embarque.
- Infelizmente já informei o número de passageiros e não posso mais vender passagem para esse vôo. Agora só para as 20,30h.
- Tudo bem, fazer o quê?
Embarquei às 20:30 hs. Vôo tranqüilo. Devido a minha pressa, desci do avião e, correndo para pegar um Táxi, fui o primeiro a chegar ao saguão do aeroporto.
Havia pessoas esperando no desembarque, homens, meninos, mulheres (esposas?), etc... Antigamente as pessoas da família iam buscar os entes queridos nos aeroportos.
Fui praticamente barrado no saguão:
- Esse vôo é o das 20 hs? – perguntaram as pessoas que estavam na espera.
- Não. Esse é o das 20:30 hs – disse e continuei andando, homens e mulheres atrás de mim insistindo:
- O Senhor tem certeza?
Para cessar o assédio, quase no ponto de Táxi, mostrei minha passagem.
O avião YS-11 da VASP, o Samurai, havia caído sem deixar sobreviventes. Acho que foi o último Samurai.
É uma sensação horrível você se dar conta que aquele avião que saiu antes não chegou, olhar a expressão no rosto daquelas pessoas... a reação é uma coisa indescritível.
Toda vez que tenho notícia de queda de avião começa na minha mente aquele filme do saguão do aeroporto do Galeão. É muito triste...

6 comentários:

Alencar Silva disse...

É o destino, putz...
Já imaginou se a atendente resolve colocá-lo no vôo, afinal seria coisa de minutos uma nova chamada. Concordo com ele, deve ser horrível ver famílias desesperadas a procura de notícias.
Muito legal esse post, história incrível, gostei...

Parabéns meu amigo...

Mário Monteiro disse...

veja so, ele sem saber que a pessoa da frente iria morrer.. ah a susete está concorrendo para ser assistente de bordo tem passado os testes todos. não me agrada nada a idéia mas enfim.

Alencar Silva disse...

FELIZ 2009 MEU AMIGO!!!

Anônimo disse...

é, deve ser mesmo uma sensação muito horrivel, vc saber que poderia ter ido por minutos e morrido nakele voo.
uma coisa que deve ficar pra sempre na memoria.
beijãão.

Unknown disse...

O prefixo correto do Samurai era PP-SMI como na foto e não PP-SML que caiu em Aragarças em 7 nov 1971. Apenas um detalhe

Marlene Koch disse...

Não há dúvida que existe uma força estranha que nossa vã filosofia desconhece. As vezes, na dor de muitos, centenas tem que partir mas alguém tem que ficar para continuar uma missão ou.. passar a encarar a vida como um milagre. Nada acontece por acaso.